Os festejos juninos estão presentes no imaginário dos brasileiros há muitas décadas, particularmente, no imaginário nordestino. Por ser uma festa animada e colorida, com muita participação popular e expressão cultural mobiliza crianças, jovens, adultos e idosos, fortalecendo a economia local, atravéz do turismo. Sua força local faz com que o calendário escolar esteja subordinado a esse evento. Período de São João no nordeste significa período das férias escolares do meio do ano.
Todavia, essa festa apresenta componentes que merecem análise em relação a hábitos incompatíveis com posturas ecologicamente corretas e emergentes nos dias atuais. Provavelmente, colocá-los em discussão implica em fazer frente a valores históricos, de grande apelo popular e que vêm de longe no tempo. No entanto, é importante colocarmos a idéia de que: temos o dever de resgatar e valorizar nossa cultura, porém também temos o poder de transformá-la, o que não implica uma desvalorização da mesma, mas um olhar diversificado para questões relacionadas ao meio ambiente.
Um desses componentes é a fogueira de São João. A princípio parece impensável um São João sem fogueiras. Aqui em nossa cidade, a referida festa vem se constituindo com o passar dos anos num fator de corte de muitas árvores nativas, somando milhares de espécies que já perderam o direito à existência. O problema é: como manter viva a tradição sem desmatar e sem queimar madeira? Realmente, é difícil resolver esse problema, no fundo, de ordem cultural. No entanto, faz-se necessário colocar na balança se nossa festa e nossa alegria precisam necessariamente do sacrifício de nossa vegetação, já tão exterminada.
O fato da tomada de consciência em relação aos balões nos mostra que é possível libertar os festejos juninos de seus componentes negativos, mantendo seu lado bom e consciente, mesmo porque, na época em que esse tipo de cultura nos foi inserida havia muito mais florestas e árvores e muito menos gente e animais em criação do que nos dias atuais, além de todos os outros agravantes ambientais de que temos conhecimento diariamente. Hoje, a realidade e a consciência têm que ser outra, ainda que as coisas não precisem acontecer de uma só vez.
Para um município que tem em sua constituição uma Secretaria de Meio Ambiente pode soar estranho a permanência da fogueira municipal a partir de madeira que não seja, ao menos, legalizada. Seguramente, esse não seria um bom exemplo na perspectiva da educação ambiental. A questão é saber se estamos dispostos ou não a uma nova cultura, a uma nova mentalidade, em que a festa não esteja associada à derrubada de árvores e sua queima em belas fogueiras nas noites do São João. A questão está em saber se somos capazes de reinventar nossa cultura. Possível, claro que é. Se nós realmente queremos isso, cada um terá que responder a si próprio.
Uma ação pública municipal em defesa ao meio ambiente num período tão importante para nossa cidade como é o São João, seria o marco para uma tomada de consciência em relação à valorização e preservação de nossas árvores nativas, especialmente, neste ano de 2011, considerado como ano internacional das florestas, o que já se constitui em grandioso motivo para início de uma tomada de discussão e reflexão frente a nossos valores históricos e naturais. Como sugestão, para fortalecimento da proposta, o São João 2011 em Senhor do Bonfim poderia ter como tema um nome relacionado à proposta acima descrita, o que daria ainda mais espaço para outras atividades relacionadas além de um diferencial mais atualizado e responsável à festa.
Márcia Regina de Souza Costa
Graduada em Pedagogia
Presidente da ONG Ekokatu
E-mail alternativo: ongekokatu@hotmail.com
segunda-feira, 25 de abril de 2011
CONSIDERAÇÕES SÓCIOAMBIENTAIS PARA O SÃO JOÃO 2011 EM SENHOR DO BONFIM
07:44
Pedro Castor
0 comentários:
Postar um comentário